domingo, 24 de outubro de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

domingo, 4 de abril de 2010

Um pouco de Pessoa, ou melhor, Campos

Vou e volto e fico. Tenho a impressão de que talvez o propósito inicial deste blog tenha se desvirtuado no meio da caminho (menos devaneios como imaginado, quem sabe?); mas nada é permanentemente reto; pelo menos, não deveria ser. Se há alguma constante aqui, é Pessoa em uma de suas personas que mais me encanta (além do próprio Pessoa, claro!): Álvaro de Campos. E, vira-e-mexe, retorno à Tabacaria.

(...)
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(...)

sábado, 3 de abril de 2010

Ghosts

"He lies down on his bed and thinks: goodbye, Mr. White. You were never really there, were you? There never was such a man as White. And then: poor Black. Poor soul. Poor blighted no one. And then, as his eyes grow heavy and sleep begins to wash over him, he thinks how strange it is that everything has its own colour. Everything we see, everything we touch - everything in the world has its own colour. Struggling to stay awake a little longer, he begins to make a list. Take blue for example, he says. There are bluebirds and blue jays and blue herons. There are cornflowers and periwinkles. There is noon over New York. There are blueberries, huckleberries, and the Pacific Ocean. There are blue devils and blue ribbons and blue bloods. There is a voice singing the blues. There is my father's police uniform. There are blue laws and blue movies. There are my eyes and my name. He pauses, suddenly at a loss for more blue things, and then moves on to white. There are seagulls, he says, and terns and storks and cockatoos. There are the walls of this room and the sheets on my bed. There are lilies-of-the-valley, carnations, and the petals of daisies. There is the flag of peace and Chinese death. There is mother's milk and semen. There are my teeth. There are the whites of my eyes. There are white bass and white pines and white ants. There is the President's house and white rot. There are white lies and white heat. Then, without hesitating, he moves on to black, beginning with black books, the black market, and the Black Hand. There is night over New York, he says. There are the Chicago Black Sox. There are blackberries and crows, blackouts and black marks, Black Tuesday and the Black Death. There is blackmail. There is my hair. There is the ink that comes out of a pen. There is the world a blind man sees. Then, finally growing tired of the game, he begins to drift, saying to himself that there is no end to it. He falls asleep, dreams of things that happened long ago, and then, in the middle of the night, wakes up suddenly and begins pacing the room again, thinking about what he will do next."

(trecho de "Ghosts", de "The New York Trilogy" [1987], de Paul Auster)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

simplicidade é tudo!

Está sendo delicioso escutar Humbug, do Arctic Monkeys, nos últimos dias. Cornerstone, umas das melhores músicas do álbum para mim, tem um vídeo oficial bem bacana: Alex Turner, sozinho, cantando, segurando o microfone de um daqueles gravadores antigos, em frente de uma parede em branco. Simples assim. A simplicidade é tanta que nem a câmera é movimentada. Amei!




Momentos fofos:
"It was close, so close that the walls were wet"
"I let him go the long way round" (na segunda vez)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Kapranos, Twitter e @tataninomia

Quinta-feira, dia 18/3/2010, já tarde da noite, fiz log in na minha conta no Twitter, como de costume, e vi que havia o seguinte tweet do @multishow: Vamos encontrar o FRAZ FERDINAND amanhã e levaremos 10 perguntas dos nossos seguidores pros caras! A entrevista é de vcs! MANDA P/ GENTE! :D. Sem pensar muito, mandei um DM para @multishow, assim: pergunta pra Franz Ferdinand: se tivessem de escolher uma única música deles para ser lembrada daqui a 100 anos, qual seria? Na segunda-feira, postaram o seguinte tweet: Alex K. respondeu os seguidores @ruan96, @lucasvfa, @caionolasco, @marianabradford, @gabrielopes_ @tataninomia, @taiaduarte e @talimoraes ;) Sim!!! Minha pergunta foi selecionada, algo que nem esperava. Achei bem legal esse intermédio do Multishow entre a banda e os fãs. Detalhe: o Alex Kapranos estava segurando o "meu Twitter" nesta foto:

Foto: Multishow

Para a matéria no site do Multishow, clique aqui.

Escoceses invadem Brasília

O disco de estreia da banda escocesa Franz Ferdinand, de 2004, havia me conquistado nas primeiras audições. Comprei o cd apenas com o hit Take Me Out na cabeça e logo todo o disco já havia me arrebatado.

Em fevereiro de 2006, a banda veio ao Brasil abrir os shows do U2, no Rio e em São Paulo, e no meio do caminho apresentaram, na Lapa, bairro tradicional da boemia carioca, um show da turnê do segundo álbum, You Could Have It So Much Better, lançado no segundo semestre de 2005.

Foi exatamente no dia 23/2/2006 que os quatro escoceses – Alex, Nick, Bob e Paul – proporcionaram uma noite que, com certeza, ficou grudada na memória das pessoas que puderam presenciar uma explosão de sensações que tornou ainda menor o pequeno espaço do Circo Voador.

Mesmo ciente de que não poderia deixar a chance passar, comprar o ingresso deu um friozinho na barriga, porque nunca, até então, eu havia viajado para longe apenas para assistir a um show. Tive a sorte em dividir a aventura (foram mais de 2.000 Km de ônibus, ida e volta) com uma grande amiga, tão disposta e fã do Franz Ferdinand como eu.

Tentar descrever aquela noite não fará jus à inesquecível real experiência que agora mantenho de forma clara e com carinho na memória. Foi, de fato, impressionante ver pessoas dividindo um momento de comunhão, pulando, dançando, cantando... era perceptível, a todo o instante, o espanto dos músicos com relação à participação fervorosa do público brasileiro. Não é exagero dizer que o êxtase permeou toda a performance da banda, de modo que, ao final do show, parecia que todos tiveram a experiência de uma catarse coletiva.

Escrevo essas reminiscências porque foram fortemente evocadas ontem, quando tive a oportunidade de assistir Franz Ferdinand ao vivo, novamente, desta vez em Brasília. Custei a acreditar quando foi anunciada a inclusão de Brasília dentre as cidades brasileiras que receberiam a turnê Tonight, álbum mais recente da banda. Passada a emoção inicial incitada pela inesperada notícia, veio a angústia pela demora em ser liberado o local onde seria realizado o show. Apenas em fevereiro foi divulgado o local, Marina Hall. Ainda que não tenha ficado animada com o local escolhido, abstraí, já que Franz Ferdinand faria show na cidade, ou seja, eu não teria de viajar para Rio ou Sampa, dessa vez; no final, o local pouco importava.

Ingressos comprados, expectativa. Minha intenção era tentar ficar o mais perto possível do palco. Minha surpresa foi conseguir ficar colada à grade, do lado direito do palco. Instantes antes de o show começar, quando a equipe da turnê preparava os instrumentos, senti meu coração bater mais forte, minhas mãos formigavam... não conseguia conter a felicidade de estar perto do palco, de estar prestes a revê-los. Eles entraram no palco, sorrindo, e se depararam com um salão cheio de gente. Bateria, guitarras, sintetizadores, baixo, vozes, tudo convergiu para uma explosão de emoções, bem próxima daquela que ocorreu há quatro anos na Lapa carioca. Perpassaram sucessos dos três álbuns lançados e a cada música o público pulava, gritava, cantava, suava, reclamando de um local não ideal, mas agradecendo a oportunidade de estar ali. Alex Kapranos continua um show à parte, com sua simpatia contagiante, ganhando o público com um pouco de português, suas danças e trejeitos. Ao final, Franz Ferdinand sempre deixa um gostinho de “quero mais”.





Vídeo por Leliska