segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um poema de E.E. Cummings para uma bela tarde que se inicia:

i carry your heart with me

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
i fear

no fate (for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows

(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart (i carry it in my heart)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

The New York Trilogy

“New York was an inexhaustible space, a labyrinth of endless steps, and no matter how far he walked, no matter how well he came to know its neighbourhoods and streets, it always left him with the feeling of being lost. Lost, not only in the city, but within himself as well. Each time he took a walk, he felt as though he were leaving himself behind, and by giving himself up to the movement of the streets, by reducing himself to a seeing eye, he was able to escape the obligation to think, and this, more than anything else, brought him a measure of peace, a salutary emptiness within. The world was outside of him, around him, before him, and the speed with which it kept changing made it impossible for him to dwell on any one thing for very long. Motion was of the essence, the act of putting one foot in front of the other and allowing himself to follow the drift of his own body. By wandering aimlessly, all places became equal and it no longer mattered where he was. On his best walks, he was able to feel that he was nowhere. And this, finally, was all he ever asked of things: to be nowhere. New York was the nowhere he had built around himself, and he realized that he had no intention of ever leaving it again.” (The New York Trilogy, Paul Auster)
Já nos primeiros parágrafos de The New York Trilogy, de Paul Auster - livro que finalmente comecei a ler após algumas recomendações - deparei-me com o trecho aí transcrito. Acho que essa leitura promete ser bem proveitosa.
xxx

John Lennon

(1940-1980)

Não me lembro exatamente como meu interesse pelos Beatles foi despertado. Lembro-me, sim, de usar minha mesada, aos quinze ou dezesseis anos, para comprar CDs do quarteto de Liverpool e completar, feliz da vida, minha coleção de álbuns (ou melhor, quase, já que não tenho o Past Masters Volume One). Mais ou menos nessa época passou na TV Globo o documentário Anthology, o qual gravei em fitas VHS. Pouco mais de dez anos depois, adquiri o Box de 5 DVDs desse documentário. E para completar, mergulhei na biografia de John Lennon, uma das figuras mais queridas e polêmicas do século XX.
Minha recordação mais remota de Lennon é o LP "Shaved Fish", disco de singles lançado em 1975, que tínhamos em casa. Eu, criança, fiquei fascinada pela capa do LP e até então não tinha consciência da presença marcante de John Lennon na música mundial, muito menos que ele tinha sido um Beatle, descobertas que ocorreram bem depois.
Uma vez iniciada a leitura de "John Lennon – A Vida", escrita por Philip Norman, foi impossível não me apaixonar pela história de um homem cheio de defeitos e qualidades, como qualquer um de nós. Depois de 800 páginas, percebi um ser humano inteligente, com tino para liderança, arteiro, inseguro, rude, educado, engraçado, espirituoso, sensível, amoroso, conquistador, atrevido, desbocado, avesso às formalidades, criativo, amante das palavras, inconformado, carente, determinado, revoltado, artístico, contraditório, impulsivo, reconhecedor dos próprios erros... (isn’t he a bit like you and me?)
De uma pincelada no histórico dos antepassados de John, em especial seu avô paterno, até o fatídico dia 8 de dezembro de 1980, somos levados a fazer uma viagem ao longo de pouco mais de 40 anos, desde quando seus pais, Alfred Lennon e Julia Stanley, se conheceram, passando por seu nascimento, em 9 de outubro de 1940; sua infância ao lado da tia Mimi e do tio George; a ausência do pai; seu gosto pela leitura e pelo desenho; sua paixão pelo rock 'n' roll incitado por Elvis Presley; a formação de The Quarrymen, a banda embrionária que se tornaria The Beatles; a morte da mãe; as aventuras em Hamburgo; a Beatlemania; o casamento precoce com Cynthia Powel em razão de um filho a caminho; as experiências com a meditação transcendental; as viagens com LSD; sua paixão por Yoko Ono; sua ojeriza à época da Beatlemania; seus protestos de “make l, not war”; seu processo de autoconhecimento; sua fase de “dono-de-casa” cuidando de Sean; até o ponto final de uma vida cheia de sonhos e desejos.
Não consigo ler ou assistir algo sobre sua morte sem ficar emocionada. Fico pensando o que teria feito Lennon ao vivenciar as manifestações musicais ocorridas ao longo das décadas de 1980, 1990, 2000, todos os acontecimentos geopolíticos, todos os avanços tecnológicos... enfim, me pergunto o que poderíamos esperar de sua música.
Da fase Beatles, John Lennon desde sempre foi meu Beatle “preferido”, principalmente pela irreverência. A impressão que tenho é que, durante essa fase, todos viviam sob uma máscara feita para vender discos. Não que seja divertido escutar “With The Beatles” ou “Beatles for Sale”. No entanto, para mim, a banda fica mais interessante quando começa a experimentar outros sons em “Revolver”, por exemplo, até descambar no “White Album”, que transparece que cada um já estava fadado a seguir seus respectivos caminhos. Ainda que não oficialmente declarado, “Abbey Road” encerrou com brilhantismo a história de uma das bandas mais influentes, senão a mais, do cenário rock, pop, ou que quer que seja. Muitos já beberam, bebem e beberão dessa fonte.
Da leitura que fiz, o que mais me fascinou foi conhecer um pouco sobre a fase pós-Beatles de John Lennon. Contrariamente à corrente que condena Yoko Ono como a culpada pelo fim da banda, acho que dificilmente alguém com a personalidade de John acabaria o trabalho com os Beatles se realmente não quisesse. Talvez ela tenha sido um instrumento que justificou ou impulsionou algo que ele já quisesse fazer. Não digo que ela seja santa ou não tenha tido motivos escusos ou não tenha sido manipuladora. É o tipo de discussão que não leva a lugar algum.
Passada toda a exposição maciça em prol do “Give peace a chance” por meio do movimento “bed in” (idéia que se tornou moda depois – pessoas famosas lutando por uma causa), vieram os exercícios de terapia e autoconhecimento, álbuns de sucesso, a interação com o que estava em voga na década de 1970, o glam rock, trabalhando ao lado de David Bowie e Elton John, e o aparente amadurecimento de um homem que fazia aquele de 1964 parecer uma caricatura. Importante prova disso foi a total dedicação despendida a seu filho Sean durante quase 5 anos, quando então voltou a gravar em 1980. Planos para rever a tia Mimi e sua Inglaterra, gravar músicas que brotavam, sair viajando em turnê, tudo ao alcance das mãos não fosse o desvio mental de um americano que viajou de Honolulu, Havaí, a Nova York carregando um calibre .38. Certamente um daqueles momentos que nos faz desejar existir uma máquina do tempo e mudar a história.