segunda-feira, 26 de maio de 2008

pontos de interrogação

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
(Álvaro de Campos/Tabacaria)

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
(Paulinho Moska/A seta e o alvo)

Diariamente, incesantemente, travo verdadeiros diálogos comigo mesma. Seria isto normal? Seria eu uma pessoa normal?

O que é ser uma pessoa normal? Quais são os atributos que definem esse tipo de pessoa? Afinal de contas, pessoas normais existem?

Olhando o dicionário Aurélio podemos achar:

Normal. [Do lat. normale] Adj. 2 g. 1. Que é segundo a norma. 2. Habitual, natural.

O que nos remete a

Norma. [Do lat. norma] S.f. 1. Aquilo que se estabelece como base ou medida para a realização ou a avaliação de alguma coisa [...]. 2. Princípio, preceito, regra, lei [...]. 3. Modelo, padrão.

Ou ainda a

Habitual [Do lat. med. habituale] Adj. 2. g. 1. Que se faz, ou que sucede, por hábito. 2. Comum, vulgar. 3. Freqüente, usual.

Não sei como funciona a cabeça das outras pessoas. Só sei que comigo é assim: sempre pensando... Dentro do normal ou não, o fato é que a situação piora nos períodos que circundam a data do meu nascimento. Daqui algumas semanas completo mais um ano desde que cheguei a este mundo. Não me incomoda o fato de ficar mais velha. O processo de envelhecimento em si é interessante (ainda que o tic-tac do relógio me intimide algumas vezes!). O que ocupa grande parte dos meus dias é me perder em pensamentos intermináveis sobre todos esses anos e tentar responder questões que podem se resumir num simples “quem sou eu?”. Bem, não tão simples assim. Poderia, de uma forma sucinta e superficial, dizer: brasileira, natural de Brasília, nascida em 1980, filha de uma paulistana e de um carioca, teve uma infância feliz, uma adolescência nada rebelde, e ainda vive seus 20 e poucos anos cercada por interrogações. A idéia de tudo isso me define em parte, é verdade. Serve como mote para uma longa conversa.

Agrega-se a esse breve início o que é dito sobre as pessoas nascidas sob o signo de Câncer. Não sou uma crente incondicional das forças dos Astros. Entretanto não posso negar uma coincidência intrigante entre os elementos que caracterizam os cancerianos de um modo geral e minha personalidade. As estrelas revelam que aqueles nascidos entre 22/junho e 22/julho são sensíveis, sentimentais, sensatos, solícitos e vivem em busca do tempo perdido, sempre saudosos de um tempo passado, conservadores, refratários a mudanças, prezam pela segurança e mudam de humor como quem muda de roupa. De fato tudo isso também me compõe. Choro assistindo comercial na televisão, não suporto uma voz mais áspera, estou sempre pronta para escutar os problemas dos outros, tenho o meu conservadorismo, mudar é como um parto, o passado me visita quase diariamente – seja para me alimentar com uma saudade saudável, seja para me atormentar com possibilidades perdidas quando um “sim” deveria ter sido um “não” ou vice-versa –, posso acordar sob um céu ensolarado, amando tudo e todos ao meu redor, distribuindo risos de bom humor, e terminar o dia sob um céu acinzentado, odiando tudo e todos, recolhida a mim mesma.

Sou os livros que leio, as músicas que escuto, os filmes que assisto, sejam bons ou ruins, tudo convergindo para a construção do meu mundo e da minha visão sobre o nosso Mundo. Sou os amigos de ontem que passaram pela minha vida e sou aqueles de agora que nela estão, sou meu pai, sou minha mãe, sou meu irmão, sou minha tia-mãe, sou minha beagle e as que a antecederam, sou meus professores, sou meus antepassados brasileiros, africanos, europeus e japoneses ou qualquer um outro que eu desconheça, sou a crença que não é mais, sou a amálgama de tudo isso e um pouco além, sou um poço de contradições, sou alguém que está sendo e que se encanta e se perde na incógnita chamada vida.

Sinto vontade de abraçar o mundo (há tanto para ser explorado, descoberto, experimentado!) e ao mesmo tempo sinto-me frustrada por não conseguir fazê-lo (pelo menos não na velocidade que gostaria!). Sinto-me nada diante de tantas perguntas num caminho sem rumo. Para onde irei? Quais escolhas a serem feitas? (A idéia do que não quero ser se apresenta mais nítida para mim do que aquela que ilustra o contrário.) Perco-me nessas interrogações, sofrendo por antecipação, ansiedade que não se afasta de mim.

E de repente todas essas perguntas perdem o porquê de existir (se é que possuem sentido) e tornam-se insignificantes (se é que possuem significância alguma) diante de tantos eventos terrenos e espaciais ocorrendo simultaneamente. Quem sou eu? Sim, única dentre bilhões, mas também apenas uma dentre esses bilhões.

Olho-me no espelho e vejo uma pessoa. Confusa? Definitivamente. Normal? Não sei. Talvez. (Adequar-se ao padrão me parece monótono.) E ao final do dia fico feliz em acreditar que há perguntas que são feitas para não serem respondidas, mas constituem a razão de uma infindável busca. Provavelmente reside aí grande parte da graça da vida.

sábado, 3 de maio de 2008

Um dos melhores finais (spoiler)

Annie Hall (1977), de Woody Allen.



Yes, we need the eggs.