segunda-feira, 31 de março de 2008

...

Tento agarrar-me aos detalhes capazes (penso!) de responder os porquês. E assim sigo solta na negritude infinita pontilhada com estrelas que já foram ou deixarão de ser.

Será que sou? Definitivamente, estou.

domingo, 30 de março de 2008

O princípio do fim



Wakey wakey
rise and shine
it's on again, off again, on again
watch me fall
like dominos
in pretty patterns
fingers in the blackbird pie
I'm tingling, tingling, tingling
it's what you feel now
what you ought to, what you ought to
reasonable and sensible
dead from the neck up
because I'm stuffed, stuffed, stuffed
we thought you had it in you
but no, no, no
for no real reason

Squeeze the tubes and empty bottles
and take a bow, take a bow, take a bow
it's what you feel now
what you ought to, what you ought to
the elephant that's in the room is
tumbling, tumbling, tumbling
in duplicate and triplicate and
plastic bags and
duplicate and triplicate
dead from the neck up
I guess I'm stuffed, stuffed, stuffed
we thought you had it in you
but no, no, no
exactly where do you get off
is enough, is enough
I love you but enough is enough, enough
a last stop
there's no real reason

You've got a head full of feathers
you got melted to butter

(Faust Arp - Radiohead)

domingo, 23 de março de 2008

Da janela do meu quarto

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
(Álvaro de Campos, Tabacaria)

sábado, 22 de março de 2008

A última postagem me fez lembrar...

Hello Goodbye, dos Beatles! Claro!


Desencontros lingüísticos

Desencontro lingüístico I (versão franco-alemã)

– Ich liebe Dich!
– Je ne t’aime pas encore.
– Du bist das Licht meines Lebens!
– "Nous" n’exist pas encore.
– Sei du meine Eherfrau!
– Demain je partirai.

xxx

Desencontro lingüístico II (versão anglo-portuguesa)

– I love you!
– Eu não te amo mais.
– You’re the light of my life!
– “Nós” não existe mais.
– Be my wife!
– Amanhã estou indo embora.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Segredos

Ela abriu os olhos. O silêncio estava por toda parte. Apenas um pequeno relance de luz matinal insistia em querer transbordar para além da janela cortinada. Mais um dia, pensou. Seus olhos percorreram seu redor sem que o corpo os acompanhasse. Até que encontraram um homem que dormia pacificamente ao seu lado. Quantos dias, pensou. Um homem com quem dividira tantas luas e tantos sóis. Poderia dizer que o conhecia minuciosamente e, no entanto, sabia que seria capaz de se perder num labirinto infinito de possibilidades que habitavam aquele ser finito. Possibilidades essas que nunca chegariam à superfície, permaneceriam recônditas numa imensa escuridão. Preparou-se para levantar, mas o peso de toda uma vida não o permitiu. De repente uma lembrança perdida na infância veio à tona e de tão nítida a fez crer em viagens no tempo. Lembrou-se de quando, subindo numa árvore, no sítio de seus avós, apanhava jaboticaba. Como tudo àquela época era simples, lembrou. E naquele quarto agora estava. Sentia-se esposa, sentia-se mãe, sentia-se avó e tudo isso o era. E talvez quisesse que não fosse nada disso. Casou-se ainda menina, sem muita escolha, sem muito amor. Porque no tempo de sua juventude se casava. Era o costume. É para sua segurança, dizia sua mãe. E assim se uniu a um homem do qual pouco conhecia. Sabia apenas que trabalhava com números e nutria um sentimento especial por gravatas. Presa à sua rotina, por vezes tentava imaginar como estaria vivendo seu eu que tomou um outro caminho. Quais seriam seus sonhos, seus anseios, suas desilusões. Seria feliz? Meus filhos são saudáveis, agradeceu, e voltou a coser os shorts de brincar das crianças. Os anos passaram num ritmo lento e ali agora estava, deitada na cama. Conseguiu se levantar e já no banheiro, diante do espelho, viu alguém que não reconhecia. De repente sentiu doer uma dor intensa e singelas lágrimas irromperam sem pedir licença. Saudade do que poderia ter sido e não foi, e ainda assim talvez não quisesse que o fosse. Simplesmente uma curiosidade de querer saber como tudo poderia ter sido diferente. Teria sido feliz? Mas não seria felicidade ter filhos e netos saudáveis, questionou a si mesma. Recompôs-se. Este será mais um dia. Um pouco além de um dia apenas. Completa bodas. Será parabenizada, ganhará presentes, abraços e beijos. No final do dia continuarão desconhecendo seus segredos.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Simply Wonderful

Nina Simone - Ain't Got No...I've Got Life

Trancoso (BA) num dia preto-e-branco

Janeiro/2008
(simples experimento com a câmera )

terça-feira, 18 de março de 2008

Por que Metafísica do Chocolate?

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
[Trecho de Tabacaria – Álvaro de Campos]

Como não se extasiar diante do poema Tabacaria, escrito em 1928 por Álvaro de Campos/Fernando Pessoa? Não me lembro exatamente em que ocasião o li pela primeira vez. (Sei que faz um bom tempo!). O certo é que desde então não consigo parar de lê-lo e cada nova leitura traz uma outra descoberta. Quem somos, para onde vamos, nossa pequenez diante do Infinito, o desencanto diante de perguntas sem respostas, o jogo de (ir)realidades... todas as questões que estão para além do plano material e que ao mesmo tempo estão impregnadas com o concreto do cotidiano reverberam ao longo o poema. Não cabe aqui uma análise literária minuciosa que poderia trazer, por exemplo, Gaston Bachelard e seu conceito de devaneio poético. O que extraio aqui, e peço licença para pegar emprestado do poeta, é a imagem da metafísica do chocolate. Às vezes o que é ou parece grandioso ou indecifrável revela-se no que há de mais simples e prosaico. E mesmo assim, por partir do princípio de que tudo é complicado, ou supostamente deveria ser, não aproveitamos a simplicidade do momento. A eterna mania humana (em especial os adultos) de complicar as coisas! [Uma leitura pessoal].
Ainda não sei se no blog cabe o título ou se no título cabe o blog. Difícil prever o desenrolar das pedras. De qualquer forma, está aí muito do que me faz devanear: Fernando Pessoa, Tabacaria, e, claro, chocolate, que em seu sentido denotativo e deliciosamente real faz surgir, prazerosamente, as mais agradáveis sensações.

primeiras palavras

Recomeçar é estimulante. Acredito em novos ares. Um grande amigo, certa vez, fez uma observação curiosa sobre um blog meu, anterior a este, que de alguma forma ficou no meu inconsciente e agora se revela de um modo libertador. Ele cobrava, a meu ver, talvez palavras mais pessoais, que pudessem desvelar um pouco mais quem sou eu. Não sei, pode ser uma interpretação subjetiva demais da conversa. Seja como for, decidi recomeçar de uma forma diferente, em outro endereço, com outra perspectiva, num tom menos “resenhista” (se possível!).
De repente sinto uma necessidade desenfreada de me expor e me desnudar por palavras de um jeito que até então não ousaria. (E talvez ainda não ouse, apenas sinta a necessidade!). Ainda não sei o que me levou, ou melhor, trouxe, a esse turbilhão de sentimentos que já existiam latentemente. Talvez seja uma ótima saída para economizar alguns trocados que iriam para o analista.
Mas afinal de contas, qual é a razão de se ter um blog? Devanear, tornar público nossos mais loucos e íntimos pensamentos, liberar o lado escritor que potencialmente possuímos ou simplesmente mostrar o quão comuns somos? Escrever sobre o quê? Sobre filmes, livros, músicas, cores, cheiros, pessoas... tudo que nos causa sensações e aguça sentimentos e, inevitavelmente, nos compele a exteriorizar nosso modo de ver o mundo? Talvez.
Nada que aqui estiver escrito por mim vai mudar o mundo, trazer paz à humanidade, ou refrear o irremediável fim da nossa civilização. Antes são inquietudes de um microcosmo singular, o meu, sem grandes pretensões nem ambições, as quais escrevo para mim. Se, porventura, alguém quiser conhecer um pouco desse mundo, sinta-se à vontade e puxe uma cadeira.